Verdade, justiça e o jeito otimista

Uma vez eu sonhei e caí do céu. Já faz tanto tempo e não consigo mais lembrar-me se era sonho ou pesadelo. Tudo de que me lembro foi de cair. Recordo-me da queda, de como eu ganhava velocidade quando me aproximava do chão, de como eu ansiava pelo fim, mesmo sabendo que o término daquele caminho não seria nada agradável. Foram momentos, no mínimo, desagradáveis.

Quando atingi o chão, não quebrei. Não senti a dor que eu esperava sentir e olhei para o que sobrou de mim. Tudo sobrara. Lá estava eu, inteiriço, com medo de estar me faltando alguma parte que eu não tivesse notado. Não faltava. Se alguma coisa estava diferente, era a minha força. A queda me fizera mais forte. Fosse a radiação do sol amarelo, o ar rico em oxigênio ou a minha alegria em estar vivo, algo tinha me transformado e eu estava mais forte do que nunca.

Levantei dessa situação com a cabeça erguida. Jurei que, dali em diante, eu não mais me abateria diante de situações perigosas. Prometi que não viveria nada parecido com aquele pesadelo outra vez e me empenharia em ser uma pessoa melhor e mais corajosa. Se sou melhor, não posso afirmar, mas ante o perigo, eu tenho menos medo. Sempre que preciso fazer algo de que não tenho certeza ou que poderia me agoniar, eu me lembro de ter caído e me lembro de levantar-me sem qualquer dor. Eu sobrevivi.

Às vezes é muito difícil ser otimista. É difícil encarar os meus medos e me lançar diante do futuro. Quando eu vejo um abismo, é difícil não se lembrar da sensação de cair e do medo de me espatifar contra o chão. Mas, eu preciso agir acima disso. Preciso encontrar as minhas forças e lutar pela vida que eu quero, e não pela que eu tenho medo.

Ser otimista não é sobre não ter medo de cair no chão. É sobre ter coragem para tentar voar. É sobre encontrar as forças onde você menos imagina e impulsionar-se contra aquilo que você mais deseja. Meus pés tocam a terra e sinto uma força me lançar para o alto. De repente, deixo de sentir o apoio e percebo que o mundo se afasta dos meus pés. Dou um sorriso, sinto o vento soprar em meus cabelos. Estar nos céus não é como eu me lembrava. Se eu tiver que descer, ao menos me lembrarei de subir novamente.

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